quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Suportes Alternativos

O disco de 78 rotações, o Long Play, o Cassete, o Compact Disc e o DVD são, em ordem cronológica, os continentes mais populares da produção audiovisual. Outros suportes, porém, foram testados e mesmo introduzidos no mercado de varejo na Ásia, Europa e América do Norte. Conheçamos alguns deles:

- Disco de 16 e 2/3 RPM – Higway Hi-Fi

Imagem: audiophilia.com
Desenvolvido em 1956 pelo mesmo criador do LP, Peter Goldmark, o Higway Hi-Fi consistia em um sistema de toca-discos montado sobre base à prova de choques inicialmente para uso em automóveis Chrysler. A companhia CBS-Columbia foi a responsável pelo fabrico dos aparelhos bem como dos discos especiais para o sistema. Com cerca de 550 sulcos por polegada, o dobro do padrão LP, o Higway Hi-Fi usava agulha de 0,25 milímetro para interpretar as vibrações de um disco de 7 polegadas girando a somente 16 e 2/3 RPM, garantindo surpreendentes 45 minutos de gravação em cada uma de suas faces. Em 1960, a RCA fabricou aparelhos similares capazes de reproduzir discos no padrão single, em 45 RPM.

- Cartuchos

Imagem: socalmusicexchange.com
Inicialmente desenvolvidos para uso em emissoras de rádio, os cartuchos magnéticos se popularizaram entre as décadas de 60 e 70 nos Estados Unidos e na Europa após serem formalmente adotados pela indústria fonográfica. George Eash foi o criador do Fidelipac, com duas faixas de áudio, um dos primeiros modelos a lançar mão desta tecnologia. Seguiram-se as versões de quatro e oito faixas com variações de nomenclatura, formatos e canais de áudio, desde monaurais até quadrafônicos: Stereo-Pak, 8-Track, Lear Jet, PlayTape, Quad-8 etc. Todos consistiam, no entanto, numa longa fita magnética disposta em um par de rolos acondicionada em caddy – cápsula plástica retangular. Versões automotivas de aparelhos reprodutores de cartuchos também foram desenvolvidas.

- HIP Pocket Records


Em fins da década de 60 a Americom Coperation desenvolveu o Pocket Record, similar ao single, porém com apenas 4 polegadas e com menor espessura. A companhia Philco foi a responsável por fabricar os tais discos bem como seus aparelhos reprodutores. Os HIP Pocket Records eram vendidos por cinquenta centavos de Dólar em máquinas automáticas e tinham capacidade para cerca de três minutos e meio de gravação. Os últimos discos HIP datam de 1969.


- Capacitance Eletronic Disc – CED

Imagem: cedmagic.com
O sistema CED foi desenvolvido pela RCA em 1964, no qual vídeo e áudio poderiam ser reproduzidos em um televisor através de um disco de 12 polegadas feito em material semelhante ao vinil, com sulcos de alta densidade. Estes eram interpretados por aparelhagem dotada de agulha especial montada sobre braço tangencial. Da capacitância entre as ondulações oriundas dos sulcos, surgiam impulsos elétricos decodificados em áudio e vídeo. Os discos, que giravam entre 400 e 500 RPM possuíam invólucro plástico, um caddy, como um disquete de computador, de modo a evitar danos em sua delicada superfície. SelectaVision foi o nome comercial adotado pela RCA para tal sistema, que foi descontinuado em 1986 dado o seu alto custo ante ao já consolidado VHS. A companhia japonesa JVC desenvolveu na década de 70 sua versão de disco audiovisual eletrônico, o VHD: Video High Density, muito similar ao SelectaVision. Além de filmes e shows, o VHD também foi utilizado como suporte para video games e karaokê. Possuía uma versão voltada somente ao áudio, o AHD. O sistema foi abolido em 1984 sem muito transcender as fronteiras asiáticas.

- Mikro Disk

Imagem: audiorama.com.br
Em fins da década de 70 um comitê japonês se posicionava em relação à adoção de um padrão para disco de áudio digital. Três eram os concorrentes: o Compact Disc, da Philips; o AHD, da JVC e o Mikro Disk, da alemã Telefunken, que sequer foi produzido industrialmente e tampouco foi adotado pela indústria fonográfica. Cite-se, apenas para efeito de registro, que tal suporte trabalhava com discos de 5,3 polegadas envolto por cartucho. Apesar de possuir leitura analógica, por meio de sulcos e agulha, o aparato da Telefunken possuía codificação digital, muito se assemelhando ao sistema CED e, pela forma, ao MD – a ver – e poderia ter ocupado o lugar que é hoje do CD se tivesse sido aceito como padrão pela indústria.

- Mini Disc – MD

Introduzido no mercado pela Sony em 1992, o Mini Disc consiste em disco digital semelhante ao CD, acondicionado em cartucho de 68 x 72 milímetros. Em suas versões graváveis e regraváveis, o MD tem capacidade variável, dependendo da compressão de áudio utilizada. Foi e ainda é utilizado em transmissões de rádio, tendo sido adotado também pela indústria do disco japonesa.

- LD – Videolaser / Laserfilm / Discovision / Laser Disc

Imagem: blamld.com
Da força conjunta entre MCA e Philips, surge em 1978 o Discovision, disco digital de 12 polegadas com tecnologia semelhante a do CD, apta a registrar conteúdo audiovisual. Foi o precursor do DVD e, por consequência, do Blu-Ray. Também ficou conhecido como Laserdisc ou ainda LD. Com tamanho igual ao de um LP e gravação em ambas as faces, foi – até meados da década de 90 – suporte de produções de companhias como Disney, Universal Studios, Paramount, Warner Pictures etc.

Inúmeros outros suportes de áudio e vídeo foram desenvolvidos pelas empresas de tecnologia. Foram poucos, no entanto, que demonstraram viabilidade no mercado de varejo. Além de estabelecer o consenso entre os produtores de conteúdo audiovisual, tais companhias possuem ainda o grande desafio de ter suas criações aceitas pelo público consumidor. Numa era em que o conteúdo audiovisual se vê cada vez mais desprendido de suportes definitivos, torna-se ainda maior este desafio.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Então é Natal


A tradicional festa, a tradicional fé, as tradicionais luzes, as tradicionais canções em igualmente tradicionais interpretações. Apesar de o Brasil movimentar boa parte das cifras da fonografia mundial e ser um país predominantemente cristão, os discos temáticos de Natal nunca representaram uma de nossas tradições.




Há exatos 60 anos nossas festas seguem embaladas pela harpa do paraguaio Luís Bordon em “A Harpa e a Cristandade”. O álbum lançado originalmente pela Chantecler no ano de 1960, rendeu um segundo volume em 1965. Ambos tiveram diversas reedições pelas Gravações Elétricas e Warner Music. Mais recentemente, em 1995, Simone lança pela então Polygram “25 de Dezembro”, disco que, ao que parece, caminha para a mesma longevidade daqueles de Bordon. Taxada como oportunista pela crítica, a cantora baiana justificou o álbum como a celebração de uma data duplamente especial para si: o nascimento de Jesus e o seu próprio. “Happy Xmas”, de John Lennon e Yoko Ono, em versão de Claudio Rabello, tornou-se na interpretação de Simone não apenas um hino, mas um eco natalino, como o dos tais sinos de Belém, dada a pregnância de seu insistente refrão que exalta as cidades japonesas devastadas à época da segunda guerra: “Hi-ró-shi-ma” (sic) – registrando o acento característico da cantora – e Nagasaki.



O cavaquinho em marcação de samba de Valmar Amorim e Waldir Silva assim como o saxofone romântico do jovem Caio Mesquita igualmente vêm ecoando por esta época e prometem se perpetuar ainda pelos próximos Natais. Outras produções natalinas, díspares, surgiram nesta última década no Brasil: Ivan Lins, Sérgio Reis, Roupa Nova e Xuxa são alguns nomes que se dedicaram ao segmento. Nos Estados Unidos, porém, nota-se a massiva presença de tais álbuns associados aos mais diversos estilos. Já gravaram discos natalinos: Nat King Cole, The Jackson Five, Tony Bennet, Elvis Presley, Air Supply, Beach Boys, Frank Sinatra, Beatles, Billy Idol, Cristina Aguilera, Mariah Carey, Diana Krall, Jessica Simpson e Whitney Houston.










No Brasil, a escassez de álbuns natalinos conduz à repetição das poucas produções consagradas que temos. Entretanto, como prova o mercado norte-americano, trata-se de um segmento de potencial, curiosamente ainda latente no Brasil apesar de um ambiente favorável, se levarmos em conta nossa religiosidade e musicalidade.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Entrevista - por Vitor Gagliardo


Igor Garcia é formado em Comunicação Social com habilitação para Publicidade e Propaganda. É pós-graduado em Teorias e Práticas de Comunicação. Seu interesse pela música, iniciado desde criança, tornou-o um especialista no tema. Os frutos de suas pesquisas já podem ser conhecidos pelo grande público. Além de possuir um blog especializado no tema (http://oladobom.blogspot.com/), Igor está lançando o livro ‘Lado B, O - A Produção Fonográfica Independente Brasileira’ (Ed. Annablume). Em uma entrevista exclusiva ao Blog Desburocratizando, ele falou sobre sua carreira, projetos e desmembrou esse cenário desconhecido pelo grande público. “Um simples computador, mesmo os adquiridos em lojas populares de varejo, está apto a fazer as vezes de estúdio, fábrica de suporte – agora virtual –, distribuidora e veículo de comunicação. Pode-se dizer, portanto, que nunca os independentes tiveram tanta independência”, afirma.


Íntegra no blog Desburocratizando.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Vibrando em 33 RPM

A partir de 1948 a música que se produzia no mundo começou a deixar os discos de resina shellac graças a luz de Peter Goldmark. Os frágeis discos de 78 rotações por minuto, feitos em 10 polegadas, armazenavam meras duas canções, uma em cada face. Diminuindo a velocidade de rotação para 33 e 1/3 RPM, Goldmark cria um suporte de longa duração. Tanto mais flexível, feito em vinil, o LP foi responsável por registrar ao menos quatro décadas de produção musical mundial até ser posto em xeque pelo Compact Disc, suporte digital desenvolvido em fins da década de 70 com a força conjunta das companhias Sony e Philips.
Introduzido no final da década de 80 no Brasil, o CD apenas passou o LP em número de vendas no ano de 1994. Amparado pela promessa de um som cristalino, o suporte espelhado se torna símbolo de modernidade, ao passo que o LP passa a ser visto como sinônimo de obsolescência. Theodor Adorno justificava a atração pela técnica em função do vazio ofertado pela Indústria Cultural. Assim, discotecas inteiras de rádios e emissoras de TV foram expurgadas para sebos ou mesmo para o lixo na década de 90. Esqueceu-se, no entanto, que muito da música ali contida era extremamente valiosa. Não eram apenas pranchas circulares empoeiradas, eram continentes de cultura – constatam hoje, nostálgicos, aqueles que se desfizeram de suas coleções de LPs.


Máquina de corte de acetato. Foto: blog "Viva o Vinil".
Ressalte-se o mérito dos pesquisadores, influentes junto às gravadoras, que trazem títulos originalmente lançados em vinil para o suporte digital: Rodrigo Faour, Marcelo Fróes, Charles Gavin são alguns deles. Por mais que estes tenham afinco em trazer de volta muitos dos álbuns expressivos da música brasileira, é inviável colocar de volta nas prateleiras tudo o que se produziu em quatro décadas de fonografia. Percebe-se necessário, para os que pretendem compreender a música com maior profundidade, recorrer aos bons e velhos LPs, ainda que virtualmente através dos blogs que disponibilizam a íntegra do som de tais álbuns, exceto pela extração dos ruídos de superfície através de softwares específicos.
Na era do mp3, em que percebemos a música desapegada de suportes físicos definitivos, nota-se o interesse especial pelos discos de vinil. Novamente cabe a reflexão à luz da Teoria Crítica de Adorno sobre a atração pela técnica. Ainda que sendo um produto reprodutível, o LP tem seu fabrico marcado por etapas artesanais, como a galvanoplastia e o corte de acetato. Desta forma, comparado a um arquivo mp3, o disco de vinil hoje parece conservar algo de uma aura, algo de misterioso; parece possuir um certo caráter de unicidade, e talvez a isso se deva a atração por ele. Audiófilos, especialistas em técnica sônica, afirmam com veemência que os registros graves de um LP são insuperáveis se comparados aos de um CD. O fato é que nos microssulcos de um disco de vinil há o registro real da vibração do som, e não uma sequência de códigos binários enfileirados a serem lidos por um processador digital. Cite-se ainda a capa em 30 x 30 cm, bem mais atrativa do que as 12 x 12 cm dos CDs.


Neste ínterim, ressurge das cinzas a fábrica Polysom, em Belford Roxo, no Rio de Janeiro. Em atividades irregulares desde a década de 90, revezava sua linha de produção entre discos e copinhos descartáveis até ser adquirida pelos sócios da gravadora DeckDisc em meados de 2008, que a modernizou e a tem mantido operante fabricando álbuns novos e antigos de companhias como Universal, Som Livre, Warner e Sony. A produção de LPs também se mantém viva em países como Estados Unidos, Japão e Inglaterra, de onde se originam os místicos discos tidos como os de melhor prensagem de todo o mundo.

Apesar dos eventuais "plic-plocs", comuns em discos antigos e malconservados, o LP parece soar tanto mais natural que os suportes digitais, sobretudo se novo. Igualmente naturais são os erros, as imperfeições comuns da vida, inerentes ao ser humano.
O romantismo, como se percebe, também ajuda a acentuar o status do LP nesta virada de década.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Uma Presa na Teia

“Um filhote de leão, raio da manhã”

A pueril canção de Caetano Veloso, “O Leãozinho”, despertou no menino uma relação de projeção-identificação; muito pela figura imaginária do leão, representante de seu signo zodiacal, provido de juba, e especialmente pela imediata empatia criada entre o jovem e o mais leonino dos rebentos de Dona Canô e quiçá da Bahia. Mais de trinta anos após o início da Tropicália surgiu, com algum atraso, um grande atuante do movimento: eu. Em devaneios, sentia-me integrante da turma de Caetano, Gil, Gal, Mutantes e Tom Zé, imerso nas caixas de som conectadas ao recém-comprado toca-discos – aparato em desuso àquela década de 90 – que girava os primeiros LPs de minha coleção.

O continente original de "O Leãozinho": "Bicho", 1977, Philips.

“Eu, você, João girando na vitrola sem parar” (in “Saudosismo”)

Dez entre dez tropicalistas recomendavam João Gilberto. Foi o que descobri ao ler “Tropicália – A História de uma Revolução Musical”, o livro de Carlos Calado responsável pela minha traição ao movimento. Fui atrás de João Gilberto e deixei um pouco de lado a turma multicolorida para mergulhar no monocromatismo da Bossa Nova, bem representado pelas capas de César Gomes Vilella para a gravadora Elenco. Da junção da luz de todas as cores, surge o branco; dos pigmentos, o preto. É o que prega o design gráfico, e que se pode aplicar perfeitamente ao conceito de Bossa Nova. Uma sonoridade que é simples somente na aparência. Com uma percepção mais atenta, percebem-se os milhares de tons que a compõem.


“Outras notas vão entrar, mas a base é uma só” (in “Samba de Uma Nota Só”)

João puxa Tom, que puxa Vinícius, que puxa Caymmi, Carlos Lyra, Chico Buarque, Paulo César Pinheiro, Noel Rosa, Dolores Duran e meio mundo. Meio mundo que se encantou pela música brasileira, que puxou Stan Getz, Charlie Byrd, Dizzie Gilespie, Ella Fitzgerald, Frank Sinatra, Sting e muitas reticências. Mesmo a popstar Madonna é fã de Astrud Gilberto; Norah Jones tem como grande influência Maria Creuza.

Reticências puxam et ceteras e novas gerações. Com afinco e curiosidade comecei a perceber a arte musical como uma teia. Vasculhar esta teia virou obsessão. Percebi-me, assim, um explorador e um devoto da boa música.

domingo, 5 de dezembro de 2010

"O Lado B" Oficialmente Lançado

Oficialmente lançado em 04/12/2010 na Livraria Martins Fontes, "O Lado B - A Produção Fonográfica Independente Brasileira" está disponível no site da editora Annablume, em primeira mão, e em diversas redes de livrarias físicas e virtuais do país - links abaixo.

Lado B, O – A produção fonográfica independente brasileira
Igor Garcia de Castro
Formato 14x21 cm, 130 páginas
ISBN 978-85-391-0176-4

(Links atualizados)

Editora Annablume

Num momento em que o cenário fonográfico mundial se mostra incerto devido à perda da eficácia das velhas fórmulas de comercialização de música, as produções independentes se mostram expressivas e ganham cada vez mais espaço na mídia e no mercado. Apresenta-se neste livro a multiplicidade de acepções criadas para o termo “independente” traçando um panorama histórico da produção fonográfica no Brasil. O autor analisa a evolução do suporte desde seus primórdios até a contemporaneidade e procura compreender o desenvolvimento e as mudanças advindas das transformações tecnológicas e sua relação com a música, sobretudo no momento em que ela passa a ser oferecida como produto da chamada indústria cultural.

"O Lado B" conta ainda com depoimentos exclusivos de músicos, produtores e críticos culturais: Fernando Anitelli, do Teatro Mágico; Cynara Faria, do Quarteto em Cy; Ruy Quaresma, do selo Fina Flor; Carlos Mills, do selo Mills Records; Marco Aurélio Canônico e Carlos Calado, da Folha de S. Paulo.


Meu agradecimento especial aos amigos que prestigiaram este lançamento!

Sessão de autógrafos.
Inahiá, mentora de "As Meninas do Cy", livro para o qual colaboro, Cyva e Cynara.
A cantora e fonoaudióloga Andréa Chakur, filha da ilustre Cylene.
Com Neuma, Antonia e Fernanda.
Com Antonia, Elwyn - grande mestre - e Neuma.
Com Patrícia, Humberto, Reny, Manuella, Gabriela, João e Arthur
Adriana, Cíntia e Cláudio.
Lyah e Cris.