terça-feira, 21 de junho de 2016

Evento, de Aloysio de Oliveira

Rótulo do LP "Maysa", Evento / Odeon.
Como visto no livro “O Lado B”, o produtor Aloysio de Oliveira foi um dos pioneiros na produção independente brasileira. Após anos de dedicação às gravadoras Odeon e CBD / Phonogram, Oliveira resolveu fundar seu próprio selo fonográfico, apostando em artistas nos quais realmente acreditava. A Elenco foi fundada em 1963 e foi responsável pelo lançamento de cerca de sessenta álbuns memoráveis de nomes ligados à Bossa Nova, tais como Roberto Menescal, Nara Leão, Edu Lobo, Sylvia Telles, Quarteto em Cy e tantos outros de igual quilate.

Aloysio de Oliveira lançava mão dos estúdios e da fabricação da RCA para viabilizar suas produções para a Elenco e a duras penas sustentou o selo até o ano de 1967, amargando grandes prejuízos. Todo o acervo que construiu seria vendido à Phonogram – atual Universal Music. Oliveira partiria para os Estados Unidos para produzir discos de artistas brasileiros para a Warner Music, companhia ainda sem representação no Brasil àquela época.

É pouco sabido, no entanto, que Aloysio de Oliveira se aventuraria em nova empreitada fonográfica alguns anos depois. Mais precisamente em 1974, no Brasil, ele criava um selo vinculado à Odeon e o batizava de Evento – qualquer semelhança com Elenco não é mera coincidência. Mesmos ideais, mesmo capista – o revolucionário César Vilella – e o mesmo compromisso com a qualidade.

A aventura agora se dava em bases muito mais seguras. Aloysio já havia trabalhado para a Odeon anos antes e agora ele poderia contar com o respaldo de uma grande companhia do disco para dar vida às suas produções. E assim o fez. O primeiro lançamento do selo Evento foi o disco “Paulistana – Retrato de Uma Cidade”, com sinfonia idealizada pelo compositor paraense Billy Blanco em homenagem à cidade de São Paulo. O LP, muito embora obscuro, originou a vinheta do noticiário matinal da Rádio Jovem Pan, que ecoa até hoje no dial paulistano: “A cidade não desperta, apenas acerta a sua posição [...]”. O disco contou com os vocais de Claudia, Claudete Soares, Miltinho, Elza Soares e Pery Ribeiro em arranjos do maestro Chiquinho de Moraes, o único paulista do time, diga-se – da cidade de Tietê.

Outro lançamento histórico do selo Evento foi o LP “Maysa”, o último da carreira da cantora de morte prematura. Tão desconhecido quanto precioso, o disco segue ainda hoje injustiçado, mesmo com o recente interesse pela obra de Maysa por obra da minissérie “Maysa – Quando Fala o Coração”, de 2009, exibida pela Rede Globo.
Capa do LP "Maysa", de 1974. A pintura foi feita pela própria cantora.

A Evento reeditaria ainda alguns discos produzidos por Aloysio na Odeon anos antes de arquitetar a Elenco, tais como “Ary Caymmi – Dorival Barroso” e “Amor de Gente Moça”, de Sylvia Telles. Seu catálogo se resumiu a meros seis lançamentos, todos datados de 1974, a saber:

SE 11001        PAULISTANA - RETRATO DE UMA CIDADE
SE 11002        CARMEN MIRANDA E BANDO DA LUA AO VIVO
SE 11003        ARY CAYMMI - DORIVAL BARROSO
SE 11004        MAYSA
SE 11005        UM ENCONTRO - Lee Ritenour e Oscar Castro Neves
SE 11006        AMOR DE GENTE MOÇA

Fonte: Memória Musical

Aloysio de Oliveira continuaria a produzir discos para a Odeon nos anos seguintes. Transitaria pela RCA e mesmo pela Som Livre. Em 1983, publicaria um livro de memórias.

Com uma carreira marcada pela versatilidade, Aloysio de Oliveira morreu em 4 de fevereiro de 1995, vítima de câncer de pulmão, em Los Angeles, onde residia nos últimos anos de vida. Além de produtor musical, Oliveira trabalhou na Disney realizando dublagens e prestando consultoria. Foi também vocalista do Bando da Lua, conjunto que acompanhava Carmem Miranda entre as décadas de 30 e 40.