quinta-feira, 28 de abril de 2016

Toca-discos: você sabe diferenciar um aparelho bom de um ruim?


Apesar do notável crescimento do mercado de LPs, poucas são as opções de toca-discos de boa qualidade disponíveis no Brasil. Diversos modelos de aparelhos conjugados com design atraente podem ser encontrados em grandes magazines e lojas de eletrônicos. Impressionam pela versatilidade de formatos que teoricamente conseguem reproduzir, desde discos de 78 RPM até CDs e arquivos mp3. Entretanto, todos esses aparelhos têm algo em comum: os preços absurdamente altos e a baixíssima qualidade de seus componentes, sobretudo aqueles que integram a unidade reprodutora de discos analógicos.

Através das explanações básicas, expostas a seguir, o ouvinte que se inicia nesse universo poderá conhecer os componentes essenciais de um toca-discos e ter maior discernimento ao escolher seu aparelho.

Prato: os bons são bem pesados, de modo a estabilizar a rotação, geralmente feitos em alumínio ou acrílico denso. Os ruins são feitos de plástico fino e estão sujeitos às instabilidades e oscilações do motor.

Motor: os toca-discos de má qualidade costumam ser equipados com motores muito frágeis e instáveis. Podem rotacionar o prato em velocidade superior à adequada, ou, por vezes, inferior. Não há "pitch" para ajuste fino de rotação e muito menos mecanismos de manutenção de velocidade - tal como quartzo, servo ou estrobo. A audição, portanto, muitas vezes resulta distorcida. Motores frágeis também não costumam resistir por muito tempo em rotação, tendo curta vida útil. Muitos modelos de toca-discos - tanto bons quanto ruins - são movidos por correia, eficaz método de tração. Aparelhos mais antigos funcionam com polias, enquanto que os profissionais, usados por DJs, possuem motor de tração direta.

Agulha: as melhores possuem ponta de diamante, um dos materiais mais resistentes da natureza. Agulhas que equipam toca-discos ruins geralmente são de safira, material também nobre, mas pouco duradouro. Convém destacar que a velocidade de 78 RPM exige agulha diferente daquela usada para 33 e 45 RPM. Quanto aos formatos, há agulhas de ponta cônica, elíptica ou birradial, mas, de modo geral, as cônicas atendem bem às necessidades da maior parte dos ouvintes.

Braço: são vários os formatos possíveis - retos, curvos, em formato de "s". Cada um tem suas peculiaridades. Mas para todos os casos, o braço deve estar perfeitamente calibrado, formando angulações ideais com os sulcos dos discos - o que pode ser verificado através de gabaritos. Os toca-discos de má qualidade simplesmente não possuem qualquer engenharia fina e lógica em seus braços, resultando em leitura falha e deficiente dos sulcos.

Antiskating: mecanismo que compensa a força centrípeta do braço em relação ao eixo do disco. É fundamental para equilibrar a agulha corretamente dentro do sulco sonoro, permitindo uma leitura correta, sem pulos. Em toca-discos ruins esse sistema é inexistente. Em aparelhos intermediários, a compensação antiskating já é aplicada de fábrica. Os melhores toca-discos são dotados de um botão próximo ao braço que permite esse ajuste de forma precisa.

Cápsula: peça que é acoplada ao shell - ponta do braço do toca-discos - onde é afixada a agulha. É responsável por converter as vibrações dos sulcos dos discos em impulsos elétricos. Para baratear o processo de produção dos toca-discos, fabricantes que não prezam pela qualidade dão preferência às cápsulas piezelétricas de cerâmica, no lugar das magnéticas - de qualidade superior. As cápsulas de cerâmica possuem tensão de saída alta, dispensando pré-amplificação, o que configura economia. A resposta de frequência dessas cápsulas, no entanto, é muito restrita, além de exigir uma força de trilhagem - peso final da agulha - muito alta, o que representa um desgaste maior dos sulcos dos discos.

Amplificação: como visto no item anterior, os toca-discos dotados de cápsula de cerâmica costumam dispensar pré-amplificação, por isso são mais baratos. Possuem tensão de saída alta, mas de baixa qualidade. Aparelhos com cápsula magnética têm saída baixa, mas muito mais precisa. Exigem amplificador / receiver com entrada "phono" ou um pré-amplificador para  mediar a conexão com uma entrada "aux".

Caixas de som: aparelhos conjugados de baixa qualidade dificilmente possuem caixas de som compostas por alto-falantes de três diâmetros: para graves, médios e agudos. Suas caixas costumam ser dotadas de uma única via, reproduzindo um som pobre em dinâmica. Para quem busca áudio analógico de qualidade, o ideal é montar um sistema de som com toca-discos, receiver e caixas independentes com três vias.

Os itens aqui citados são aqueles que se relacionam de forma mais direta com a reprodução de um disco analógico, mas convém destacar que os aparelhos de baixa qualidade costumam ter capacitores, potenciômetros, placas, fontes, cabos e soldas igualmente ruins. Geralmente, são subprodutos de fábricas chinesas, que ganham valor agregado através do belo design de suas carcaças. O dito popular "as aparências enganam" cabe bem para essa situação.

Dos bons toca-discos disponíveis hoje no mercado, destacam-se os das marcas Stanton, Denon, Marantz e Audio-Technica. Seus preços costumam fazer jus à qualidade que possuem, mas, para quem busca uma boa relação custo-benefício, é possível encontrar bons toca-discos seminovos das décadas de 70 e 80 em lojas e sites especializados. Gradiente, Polyvox, Sony e Philips são algumas marcas que produziram aparelhos acessíveis e de ótima qualidade nesse período. Modelos mais elaborados e caros foram lançados na mesma época por Technics, Dual, Thorens, Marantz, Yamaha, JVC e outras companhias.

Através dessas breves explanações, os iniciantes no universo do som analógico certamente estarão mais preparados para escolher seus equipamentos e desfrutar melhor dessa experiência.