![]() |
Rótulo do LP "Maysa", Evento / Odeon. |
Como visto no livro “O Lado B”, o
produtor Aloysio de Oliveira foi um dos pioneiros na produção independente
brasileira. Após anos de dedicação às gravadoras Odeon e CBD / Phonogram, Oliveira
resolveu fundar seu próprio selo fonográfico, apostando em artistas nos quais
realmente acreditava. A Elenco foi fundada em 1963 e foi responsável pelo
lançamento de cerca de sessenta álbuns memoráveis de nomes ligados à Bossa
Nova, tais como Roberto Menescal, Nara Leão, Edu Lobo, Sylvia Telles, Quarteto
em Cy e tantos outros de igual quilate.
Aloysio de Oliveira lançava mão
dos estúdios e da fabricação da RCA para viabilizar suas produções para a
Elenco e a duras penas sustentou o selo até o ano de 1967, amargando grandes prejuízos.
Todo o acervo que construiu seria vendido à Phonogram – atual Universal Music.
Oliveira partiria para os Estados Unidos para produzir discos de artistas
brasileiros para a Warner Music, companhia ainda sem representação no Brasil
àquela época.
É pouco sabido, no entanto, que Aloysio
de Oliveira se aventuraria em nova empreitada fonográfica alguns anos depois.
Mais precisamente em 1974, no Brasil, ele criava um selo vinculado à Odeon e o
batizava de Evento – qualquer semelhança com Elenco não é mera coincidência.
Mesmos ideais, mesmo capista – o revolucionário César Vilella – e o mesmo
compromisso com a qualidade.
A aventura agora se dava em bases
muito mais seguras. Aloysio já havia trabalhado para a Odeon anos antes e agora
ele poderia contar com o respaldo de uma grande companhia do disco para dar
vida às suas produções. E assim o fez. O primeiro lançamento do selo Evento foi
o disco “Paulistana – Retrato de Uma Cidade”, com sinfonia idealizada pelo compositor
paraense Billy Blanco em homenagem à cidade de São Paulo. O LP, muito embora
obscuro, originou a vinheta do noticiário matinal da Rádio Jovem Pan, que ecoa
até hoje no dial paulistano: “A
cidade não desperta, apenas acerta a sua posição [...]”. O disco contou com os
vocais de Claudia, Claudete Soares, Miltinho, Elza Soares e Pery Ribeiro em
arranjos do maestro Chiquinho de Moraes, o único paulista do time, diga-se –
da cidade de Tietê.
Outro lançamento histórico do
selo Evento foi o LP “Maysa”, o último da carreira da cantora de morte
prematura. Tão desconhecido quanto precioso, o disco segue ainda hoje
injustiçado, mesmo com o recente interesse pela obra de Maysa por obra da
minissérie “Maysa – Quando Fala o Coração”, de 2009, exibida pela Rede Globo.
Capa do LP "Maysa", de 1974. A pintura foi feita pela própria cantora. |
A Evento reeditaria ainda alguns
discos produzidos por Aloysio na Odeon anos antes de arquitetar a Elenco, tais
como “Ary Caymmi – Dorival Barroso” e “Amor de Gente Moça”, de Sylvia Telles.
Seu catálogo se resumiu a meros seis lançamentos, todos datados de 1974, a
saber:
SE 11001 PAULISTANA - RETRATO DE UMA CIDADE
SE 11002 CARMEN MIRANDA E BANDO DA LUA AO VIVO
SE 11003 ARY CAYMMI - DORIVAL BARROSO
SE 11004 MAYSA
SE 11005 UM ENCONTRO - Lee Ritenour e Oscar Castro Neves
SE 11006 AMOR DE GENTE MOÇA
Fonte: Memória Musical
Aloysio de Oliveira continuaria a
produzir discos para a Odeon nos anos seguintes. Transitaria pela RCA e mesmo
pela Som Livre. Em 1983, publicaria um livro de memórias.
Com uma carreira marcada pela
versatilidade, Aloysio de Oliveira morreu em 4 de fevereiro de 1995, vítima de
câncer de pulmão, em Los Angeles, onde residia nos últimos anos de vida. Além
de produtor musical, Oliveira trabalhou na Disney realizando dublagens e
prestando consultoria. Foi também vocalista do Bando da Lua, conjunto que
acompanhava Carmem Miranda entre as décadas de 30 e 40.