quinta-feira, 12 de maio de 2016

Post 1 de 2: GEL / Continental – gravadora nacional, mas com força de major


Como visto no livro "O Lado B", a Casa Edison foi a companhia pioneira na produção de discos no Brasil - em fins do século XIX. Localizada no centro do Rio de Janeiro, a empresa fora idealizada e conduzida pelo tcheco Federico Figner, tendo sido sucedida pela Odeon em 1929. Naquele mesmo ano, em São Paulo, o industrial Alberto Jackson Byington Junior dava início a mais uma empreitada da Byington & Co. A companhia, já firmada no Brasil como representante de máquinas de escrever e geladeiras, passaria a investir também em música gravada.

Por sugestão do produtor norte-americano de cinema Wallace Downey, Alberto Byington assumiu a representação da Columbia Records no Brasil. Assim foi durante 14 anos, até que a Columbia norte-americana resolveu se instalar por aqui de forma autônoma. O conglomerado Byington possuía notável know-how acerca do mercado fonográfico, assim como estrutura e maquinário, por isso tinha totais condições de prosseguir com suas atividades fonográficas, mesmo desvencilhada da marca Columbia.

Disco de 78 RPM de 1941. Selo Columbia, fabricação de Byington & Co. 
Disco de 78 RPM de 1945. Selo Continental, fabricação de Byington & Co.
Com João de Barro (Braguinha) como diretor artístico, o braço fonográfico da Byington & Co. passa a se chamar Continental Discos a partir de 1943, e por muitos anos competiu em pé de igualdade com as internacionais RCA, Odeon e Columbia Broadcasting System (CBS), com cast e lançamentos expressivos. A companhia de Byington teria ainda tantos outros selos, tais como Chantecler, Caboclo, Musicolor e Phonodisc – sob a razão social Gravações Elétricas LTDA. – ou GEL.

O pesquisador Ruy Castro narra em seu livro "Chega de Saudade" [Companhia das Letras, 1990] o curioso e eficiente sistema de distribuição da Continental em meados das décadas de 50 e 60, que levava seus discos aos lugares mais inóspitos do Brasil, se valendo até de transporte animal - o conhecido "lombo de burro".

A GEL se notabilizou a partir da década de 60 por expressivos lançamentos de álbuns de música sertaneja em grande escala, com destaque para nomes como Cascatinha & Inhana, Duo Glacial, Irmãs Galvão, Tonico & Tinoco, Milionário & José Rico e tantos outros. Como visto no livro “O Lado B”, a Columbia, representada pela Byington, havia sido a primeira companhia a explorar esse filão, através do pesquisador e empreendedor Cornélio Pires. A também nacional Copacabana investiu fortemente nesse segmento, pouco valorizado pelas majors, assim como a Chantecler, adquirida pela GEL em 1972 – tornando mais forte seu conglomerado. Somente na virada dos anos 80 para os 90 as gravadoras internacionais se renderiam em peso ao estilo sertanejo, tendo como marco a saída de Chitãozinho & Xororó da Copacabana rumo à Philips, um dos selos mais nobres da Polygram – atual Universal Music.

GEL / Continental: do surgimento ao fim, profusão de identidades visuais.

Entre as décadas de 60 e 80, a fábrica da GEL não somente dava conta de suas próprias demandas, como também fabricava discos de várias outras companhias, tais como CBS e Warner Music (WEA). A Warner, por sinal, se estabeleceu no Brasil na segunda metade da década de 70 dedicando-se muito mais aos setores de A&R (artistas e repertório), promoção e vendas do que à fabricação – antecipando uma tendência que viria dominar a indústria anos depois. A GEL possuía ainda uma gráfica própria para produzir as capas e encartes de seus discos. No fim da década de 80, a companhia terceirizou suas prensagens com a americana Wheaton – no Brasil estabelecida em São Bernardo do Campo.

O conglomerado GEL foi incorporado ao grupo Warner em 1993, sem aparentar crise, já que a gravadora vinha emplacando diversos êxitos até então, sobretudo no segmento sertanejo, que tomou conta do Brasil nesse período. Destaque para Roberta Miranda e Leandro & Leonardo, que gravaram diversos discos pela GEL e Warner.

Após a fusão e com a crescente demanda do mercado por CDs, a produção de vinil – e também de cassetes, no mesmo parque fabril – da GEL foi desativada. Os últimos LPs e cassetes lançados por selos GEL / Warner, na década de 90, foram fabricados por diversas outras companhias, ao passo que toda a produção de CDs no Brasil saía basicamente de três fábricas: Microservice, Videolar e VAT. Sony Music e BMG teriam fábricas próprias de compact discs na segunda metade dos anos 90.

A GEL / Continental provavelmente foi a gravadora nacional mais longeva da história de nossa fonografia, e talvez aquela que melhor tenha retratado toda a diversidade musical brasileira entre as décadas de 40 e 90.

>> Post 2 de 2 em breve.

2 comentários:

  1. Muito bacana! Sobre as identidades visuais, você saberia ordená-las cronologicamente? Abraço!

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    1. Aí está um bom desafio! Rs...

      Abra a imagem em resolução maior e acompanhe comigo:

      - Grupo Papo 10, 1993
      - Almir Sater, 1989
      - Os Bons Tempos da Jovem Guarda, 1983
      - Country Blue Gang, 1979
      - Noca do Acordeom e Conjunto, 1978
      - Demétrius, 1976
      - Wilson Miranda, 1973
      - F. Petrônio e D. Reis, 1962 (relançamento anos 70)
      - Geysa Celeste, 1965
      - Terezinha Quental, 1965
      - Dilermando Reis, 1963
      - Elis Regina, 1961

      Abraço e obrigado por prestigiar esse espaço!

      Igor

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