terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O Fim da Música?

Imagem:  viuisso.com.br
Em 27 de fevereiro de 2009, o jornalista, produtor, compositor e agregador cultural Nelson Motta proclamava o fim da música. O texto, publicado no jornal O Estado de São Paulo, está para completar dois anos e continua a repercutir.

Motta, em seu biográfico livro “Noites Tropicais”, narra a relação de alguém que viu a Bossa Nova surgir, a Tropicália ecoar, os festivais ferverem, a era discoteca estourar e o “BRock” barbarizar. Trata-se de alguém que produziu discos de Elis Regina, shows de Gal Costa e engendrou o lançamento de Marisa Monte.

Aqueles nostálgicos anos foram marcados por eventos de massa. A maior parte da produção fonográfica vinha das majors, os jornais e revistas eram parcos, o acesso à mídia era restrito. Possuíamos poucas opções de consumo cultural, e por conta disso encontrávamos com maior facilidade uma similaridade com aqueles à nossa volta. A finada era de massas possuía algum caráter agregador.


A publicitária nova-iorquina Faith Popcorn, em seu best-seller “Relatório Popcorn”, escrito no início da década de 90, apontava uma tendência comportamental cuja qual batizou de “encasulamento”. Segundo a autora, por aqueles próximos anos os indivíduos iriam cada vez mais se voltar a si, ao seu casulo.  Naquele remoto 1991, ano da publicação, a internet ainda estava longe de adentrar nossos lares e nosso cotidiano. A vida era ainda presencial, e não virtual. Éramos mais unidos.

Hoje não temos segmentos, mas hipersegmentos. As tendências e vertentes musicais deram crias. Dado o processo de democratização da técnica, citado por Motta, tais crias se reproduzem de maneira acelerada, e perceber influências torna-se algo dificultoso apesar de algumas vezes termos a nítida impressão de que algo soa familiar.

Imagem: Alfa Ana Mia.
Quanto mais temos facilidade no acesso desta vasta gama de produções culturais, mais o liquidificador gira, ou seja, mais rapidamente as assimilamos e descartamos – com a velocidade de se pressionar a tecla “delete”. Torna-se, portanto, ainda mais difícil algo que não seja dotado de imensa qualidade, erudição, técnica e emoção – dentre inúmeros outros fatores, sobretudo os mercadológicos – perpetuar-se como fez a quadragenária “Roda Viva”, de Chico Buarque ou a quinquagenária “Garota de Ipanema”, de Tom e Vinícius. Constatada esta realidade, poderíamos, como consequência, anunciar o fim da música – como fez Nelson Motta? Talvez pudéssemos entender tal cenário como uma ameaça ou simplesmente uma dificuldade em relação à perpetuação dela, o que seria tanto menos assustador, mas também delicado.

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