quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Slap, o selo descolado da Som Livre

O venturoso lançamento da trilha sonora da novela “Véu de Noiva” em 1969, resultado da parceria entre a TV Globo e a gravadora Philips, leva a emissora a fundar em 1971 a Som Livre. Pertencente à Sigla, Sistema Globo de Gravações Audiovisuais, a companhia foi criada inicialmente com a única finalidade de comercializar as trilhas sonoras das produções dramatúrgicas da emissora, constituídas, em sua maior parte, por fonogramas licenciados junto a outras gravadoras. A ideia, por sinal, fora importada do México, país de longa tradição em folhetins televisivos, pioneiro no lançamento das trilhas de tais produções.


O primeiro lançamento da Som Livre: SIG 1001.
Imagem: didimocolizemos.wordpress.com
Desde sua criação, os lançamentos da gravadora das Organizações Globo passam a figurar entre as vendas anuais mais expressivas do mercado fonográfico brasileiro. Nomes como Rita Lee, Novos Baianos, MPB4, Emílio Santiago, Cazuza, Elis Regina, Fafá de Belém, Moraes Moreira, Djavan, Fábio Jr. e Francis Hime já passaram pela gravadora, além de Xuxa, sua mais profícua contratação, que hoje integra o cast da Sony Music. Recentemente, a Sigla se desfez de sua editora musical, a Sigem, por questões administrativas. Entretanto, atenta às novas possibilidades comerciais e tendências do mercado fonográfico, em novembro de 2007 cria um novo selo com a proposta de:

"(...) produzir, distribuir e divulgar o CD dos cantores e bandas da maneira tradicional existente, contando ainda com a possibilidade de emplacar as músicas nas compilações e nas trilhas de novela que a Som Livre também produz, além de inovar utilizando bastante as novas mídias – uma fonte de visibilidade, interação com os fãs e vendas cada vez mais legítimas para o mercado".


Com ares de independente, o selo Som Livre Apresenta foi recentemente rebatizado de Slap – feliz coincidência com nome de manobra executada no contrabaixo, também conhecida como Slapping. A marca conta com nomes como Jonas Sá, Marcelo Jeneci, Little Joy, The Parlotones e Maria Gadú, cantora e compositora de interpretação marcante, segura e de postura alternativa, destaque maior, inclusive, que seu próprio selo.

Em entrevista para a Billboard Brasil, Leonardo Ganem, executivo da Som Livre, afirma que a Slap nasceu em momento negro para a indústria fonográfica:

"E [o selo] nasceu um pouco por isso mesmo: o setor só trazia más notícias, era uma queda que não acabava mais. então, resolvemos criar alguma coisa para as pessoas falarem bem. Fomos aos acionistas da TV Globo e lembramos a eles que a emissora tem como missão divulgar cultura brasileira de qualidade."


Diferentemente dos demais websites de companhias fonográficas, o endereço virtual da Slap é hospedado em domínio “.mus.br”. Supõe-se que o tradicional “.com.br” foi evitado a fim de ressaltar a verdadeira intenção do selo, que pretende valorizar mais o lado musical do que o comercial, assim redimindo a voracidade industrial com que a Som Livre conduziu a maior parte de suas produções em 40 anos de notável e intensa existência.

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