quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Vibrando em 33 RPM

A partir de 1948 a música que se produzia no mundo começou a deixar os discos de resina shellac graças a luz de Peter Goldmark. Os frágeis discos de 78 rotações por minuto, feitos em 10 polegadas, armazenavam meras duas canções, uma em cada face. Diminuindo a velocidade de rotação para 33 e 1/3 RPM, Goldmark cria um suporte de longa duração. Tanto mais flexível, feito em vinil, o LP foi responsável por registrar ao menos quatro décadas de produção musical mundial até ser posto em xeque pelo Compact Disc, suporte digital desenvolvido em fins da década de 70 com a força conjunta das companhias Sony e Philips.
Introduzido no final da década de 80 no Brasil, o CD apenas passou o LP em número de vendas no ano de 1994. Amparado pela promessa de um som cristalino, o suporte espelhado se torna símbolo de modernidade, ao passo que o LP passa a ser visto como sinônimo de obsolescência. Theodor Adorno justificava a atração pela técnica em função do vazio ofertado pela Indústria Cultural. Assim, discotecas inteiras de rádios e emissoras de TV foram expurgadas para sebos ou mesmo para o lixo na década de 90. Esqueceu-se, no entanto, que muito da música ali contida era extremamente valiosa. Não eram apenas pranchas circulares empoeiradas, eram continentes de cultura – constatam hoje, nostálgicos, aqueles que se desfizeram de suas coleções de LPs.


Máquina de corte de acetato. Foto: blog "Viva o Vinil".
Ressalte-se o mérito dos pesquisadores, influentes junto às gravadoras, que trazem títulos originalmente lançados em vinil para o suporte digital: Rodrigo Faour, Marcelo Fróes, Charles Gavin são alguns deles. Por mais que estes tenham afinco em trazer de volta muitos dos álbuns expressivos da música brasileira, é inviável colocar de volta nas prateleiras tudo o que se produziu em quatro décadas de fonografia. Percebe-se necessário, para os que pretendem compreender a música com maior profundidade, recorrer aos bons e velhos LPs, ainda que virtualmente através dos blogs que disponibilizam a íntegra do som de tais álbuns, exceto pela extração dos ruídos de superfície através de softwares específicos.
Na era do mp3, em que percebemos a música desapegada de suportes físicos definitivos, nota-se o interesse especial pelos discos de vinil. Novamente cabe a reflexão à luz da Teoria Crítica de Adorno sobre a atração pela técnica. Ainda que sendo um produto reprodutível, o LP tem seu fabrico marcado por etapas artesanais, como a galvanoplastia e o corte de acetato. Desta forma, comparado a um arquivo mp3, o disco de vinil hoje parece conservar algo de uma aura, algo de misterioso; parece possuir um certo caráter de unicidade, e talvez a isso se deva a atração por ele. Audiófilos, especialistas em técnica sônica, afirmam com veemência que os registros graves de um LP são insuperáveis se comparados aos de um CD. O fato é que nos microssulcos de um disco de vinil há o registro real da vibração do som, e não uma sequência de códigos binários enfileirados a serem lidos por um processador digital. Cite-se ainda a capa em 30 x 30 cm, bem mais atrativa do que as 12 x 12 cm dos CDs.


Neste ínterim, ressurge das cinzas a fábrica Polysom, em Belford Roxo, no Rio de Janeiro. Em atividades irregulares desde a década de 90, revezava sua linha de produção entre discos e copinhos descartáveis até ser adquirida pelos sócios da gravadora DeckDisc em meados de 2008, que a modernizou e a tem mantido operante fabricando álbuns novos e antigos de companhias como Universal, Som Livre, Warner e Sony. A produção de LPs também se mantém viva em países como Estados Unidos, Japão e Inglaterra, de onde se originam os místicos discos tidos como os de melhor prensagem de todo o mundo.

Apesar dos eventuais "plic-plocs", comuns em discos antigos e malconservados, o LP parece soar tanto mais natural que os suportes digitais, sobretudo se novo. Igualmente naturais são os erros, as imperfeições comuns da vida, inerentes ao ser humano.
O romantismo, como se percebe, também ajuda a acentuar o status do LP nesta virada de década.

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